22/06/11 - Busca de parcerias (alunos da ECA-USP)


O João Monteiro, cliente do projeto, também entrou na busca por parceiros para a produção do documentário. Ele acionou o seu amigo Rubens Machado Jr. que é professor da ECA-USP, buscando indicação de alunos que estariam interessados e disponíveis para ingressar no projeto. No entanto depois de diversos contatos realizados pela equipe do projeto, em outros canais já citados, e pelo João, ainda não fomos bem sucedidos. Por conta desse "fenômeno" da falta de interesse e/ou disponibilidade o João escreveu a seguinte reflexão que compartilhamos aqui:
Famosidades
"A fama sempre foi em teoria o resultado de uma excelência e por isso se torna uma ferramenta de avaliação para quem não tem conhecimentos permitindo de julgar por si mesmo a qualidade da produção do “famoso”, isso quando o famoso produz alguma coisa. Mas nos esquizofrênicos tempos correntes a dissociação entre obra e renome no campo das artes plásticas, alcança graus nunca antes...

Recebi agora mesmo um e-mail do Rubão, o Rubens Machado, professor da ECA e meu ex-colega de FAU, de cursinho e de república, no qual ele explica a dificuldade em interessar “um jovem talento” (um de seus alunos) em participar do pequeno documentário sobre o escultor Caetano Fraccaroli, que foi nosso professor na Arquitetura e meu mestre. Esse documentário é produzido por um grupo de engenheiros e administradores que fazem uma especialização na Fundação Vanzolini, gente de ótimo preparo e competência.
Os “jovens talentos” da ECA primeiramente se decepcionaram por não se tratar de um trabalho remunerado (caso, aliás, em que procuraríamos um profissional e não um aluno) apesar de poder desembocar num projeto maior e pago, este sendo inclusive um dos objetivos.
Além disso, para eles, a Fundação Vanzolini não é lá essa coisa toda e nem esse escultor tão “famoso”!
Fraccaroli assinou vários monumentos na cidade de São Paulo, em Santos, São Vicente, no Mato Grosso, alguns dos quais dentro do próprio Campus da USP, além de ter ensinado na Poli e na FAU, aonde formou artistas como Sérgio Ferro e Flávio Império entre outros.
Mas isso não é fama suficiente para nossos jovens alunos de arte e comunicação.
Rubão comenta que acenou para eles com nomes como o de Tadeu Chiarelli, atual diretor do MAC e de Rodrigo Naves, que deverão ser entrevistados, além de Vera Palamini que é professora da FAU (igualmente cria do Fraccaroli) e participa diretamente do projeto.
Mas até agora ninguém reagiu.
Não deixa de ser tocante o fato desses últimos nomes citados, sobretudo talvez o de Rodrigo Naves, certo, um dos raríssimos críticos de arte a publicarem livros cá na Tupiniquinolândia, serem muito mais atrativos que a obra do escultor a ser descoberta pelos jovens aprendizes de artista.
Mesmo considerando que o jovem tem pouco recuo por ter vivido poucos anos de estudo e de trabalho, tendendo a não enxergar muito bem obras distantes no tempo e no espaço e a fixar-se na moda e no presente, não deixa de surpreender a ideia de que um simples crítico de arte possa interessá-lo mais que o próprio artista.
Se publicar umas tantas linhas grafitadas ou tecladas, apesar das facilidades trazidas pela informática à indústria editorial, é bastante difícil num país de poucos leitores e de pouquíssimos estudiosos ou amadores de arte, imagine realizar uma obra de escultor!
É quase um milagre, como o próprio Rodrigo Naves sugere em sua “A Forma Difícil” que um escultor tenha conseguido aqui no Brasil, realizar bronzes e mármores com tal esmero e com tal qualidade de modelagem, de concepção, de composição, de acabamento.
Se não bastasse a raridade de obras com esse nível de realização, as esculturas de Fraccaroli ilustram com incomum clareza a aventura modernista, indo do clássico, no mais generoso sentido do termo até o concretismo de suas derradeiras peças.
As transformações e passagens que podemos acompanhar estudando seu percurso propiciam uma oportunidade ímpar de entendimento das formas e propósitos modernos.
Isso num país aonde a rarefeita presença de obras clássicas dificulta a compreensão do significado das “rupturas” modernistas e, portanto a compreensão da produção contemporânea, por sua vez nelas apoiada.
Como ter ideia de onde ir sem saber de onde viemos?
Ou será que um escultor deveria ser famoso como uma “pop star” para merecer a atenção dos nossos “jovens talentos”?"
João Monteiro

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